Hoje é o dia "depois das eleições" e é tempo de fazer contas.
Como sabem, ao longo das semanas fui construindo intervalos prováveis para os resultados eleitorais das legislativas do dias 10 de Março de 2024 a partir das sondagens que foram sendo publicadas.
Como referi, as minhas colegas da estatística são totalmente contrárias à minha metodologia, dizem elas que o que eu faço não é estatística, é uma coisa qualquer que elas não compreendem mas que está errada. Em alternativa, nada são capazes de fazer porque "os resultados eleitorais são parâmetros e um parâmetro, não é uma variável aleatória" (muitos dos leitores ouviram esta conversa nas aulas de Econometria e de Estatística".
Interessante que, quando as pessoas não sabem, não compreendem, não procuram estudar e compreender, atiram logo com a assumpção de que os outros estão errados!!!!
Fig. 1 - O CHEGA tem de matar o bicho já
Vamos então à comparação entre as previsões e a realidade.
Chegou agora a hora de fazer o balanço, comparando as minhas previsões com os resultados eleitorais reais. Essa avaliação terá de ser actualizada daqui a 15 dias porque ainda não sei os resultados da emigração.
Fig. 2 - Comparação entre as sondagens, minhas previsões de deputados e os resultados das legislativas de 10 de Março de 2024
O maior erro de previsão foi de 2 deputados.
A AD e o PS estiveram dentro da margem de previsão de +-3 deputados. Mesmo ainda faltando atribuir 4 deputados, continuarão a cair dentro da margem de previsão.
Considerando o intervalo entre o valor de confiança, em termos de deputados, o erro maior foi no CHEGA que teve mais 2 deputados (o melhor cenário previsto indicava 46 deputados e teve 48 deputados) e no Bloco de Esquerda que teve menos 2 deputados (o pior cenário previsto indicava 9 deputados e teve 5 deputados).
A iniciativa Liberal foi, nas previsões do seu chefe, uma desilusão (pensava que iria ter pelo menos 12 deputados) mas o erro foi de apenas menos 1 deputado (o pior cenário previsto indicava 9 deputados e teve 8 deputados).
O Livre e o PAN conseguiram ficar 1 deputado acima do melhor cenário previsto.
A esquerda ganhou à direita (AD+IL) por 4 deputados.
Esta questão ficou, com as sondagens, dentro da margem de erro, disse eu que o resultado seria "moeda ao ar". E assim foi, calhou a "vitória" para a esquerda com 91 deputados contra os 87 deputados da AD+IL.
Posso dizer que acertei e que, por isso, não houve surpresas na noite eleitoral.
Acertei eu e acertaram as sondagens como um todo mas erraram todos os analistas que procuraram uma leitura individualizada de cada sondagem e interpretar tendências que nunca existiram.
As sondagens têm de ser compreendidas como um fenómeno da Ciência da Informação e não ser reduzida a uma discussão sobre médias e desvios padrão.
Em 2015 eu avisei o PCP de que apoiar o PS era suicídio.
Quando em 2015 o Passos Coelho teve 108 deputados (a AD teve agora 80 deputados !!!!!!), o PCP (com 17 deputados) e o BE (com 19 deputados) correram para os braços do Costa que, com 89 deputados, formou governo.
Decorridos 9 anos, o PCP está reduzido a 4 deputados e o BE a 5 deputados, perdendo 3 em cada 4 deputados que tinham (de um total de 36 deputados para 9 deputados).
Eu avisei-os que a esquerda radical deixaria de fazer sentido se apoiassem o governo do PS. É que os radicais precisam de inimigos para poderem singrar.
Não me quiseram ouvir, f...deram-se ao comprido.
E como será o futuro?
O governo do Montenegro não tem qualquer futuro porque não lhe basta a abstenção do CHEGA porque a esquerda (PS+BE+PCP+Livre+PAN) tem mais 4 deputados do que a AD+IL.
Mesmo que a esquerda não se una ao CHEGA numa moção de censura, a Assembleia da República não vai funcionar porque, mesmo na melhor das hipóteses para o Montenegro, haverá chumbo a todas as propostas do governo com os votos contra da esquerda e a abstenção do CHEGA.
Mas o CHEGA tem de matar já o dragão para sobreviver.
Está tudo dependente do que o CHEGA fizer nos Açores.
Se o chefe do CHEGA nos Açores chumbar o Bolieiro em cumprimento da afirmação de que "está disponível para viabilizar Governo regional se integrar o executivo e se ficarem de fora os líderes de CDS e PPM, porque a «última experiência foi má demais»" (Observador), o Montenegro toma consciência de que não tem quaisquer condições para formar governo. Vai à sua vida e o Marcelo tem de descalçar a bota.
O Marcelo ou aceita o Pedro Passos Coelho ou fica lá o Costa em gestão até daqui a 6 meses, quando pode dissolver a Assembleia da República e marcar novas eleições.
Se o CHEGA deixar cair a ameaça e deixar passar o Bolieiro, o Montenegro pode formar governo mas, neste caso, o CHEGA, torna-se um dragão de papel, um cão que ladra mas que não morde. TEnho a certeza de que os votantes do CHEGA querem que o Ventura deite abaixo o Montenegro e que avance com o nome de Pedro Passos Coelho.
Mesmo no cenário de abstenção do CHEGA, o Orçamento de Estado de 2025 não vai passar (porque a esquerda tem mais deputados que a AD+IL) e o governo vai cair.
Da mesma forma que avisei os esquerdistas em 2015, aviso-te CHEGA de que é um suicídio.
O Chega é um comboio em marcha que, se parar, corre o risco de não mais arrancar.
Se o CHEGA deixar o combate mesmo e abandonar as propostas sem sentido (ninguém quer saber), vai deixar arrefecer a dinâmica de vitória e nas próximas eleições vai-lhe acontecer o mesmo que aconteceu ao PRD que em 1985 teve 45 deputados para, depois de 2 anos a apoiar o PSD com abstenções, cair para 7 deputados em 1987 (e desaparecer em 1991).
Qual o argumento para o CHEGA chumbar o Montenegro?
Lembram-se da frase dita em directo em 2022 pelo presidente do CDS "Uma esquadrão de cavalaria à desfilada na sua cabeça não esbarra contra uma ideia, André Ventura"?
Sabem que na sede de campanha da AD, na noite das eleições censuraram a declaração de vitória do André Ventura?
Se o Ventura tem coluna vertebral, isto não tem perdão.
Desta forma, avançam com o mesmo argumento usado pelo José Pacheco nos Açores, "O CDS e o PPM foram muito indelicado para com o CHEGA e, por isso, não podem fazer parte do governo".
Fig. 3 - Ventura amigo, se deixas o Montenegro passar, vai-te acontecer o mesmo que aos PCP e BE
A IL sofreu uma derrota de longo prazo.
A IL elegeu um deputado em 2019 e, numa dinâmica de crescimento, elegeu 8 deputados em 2022.
Decorridos 2 anos, com muito mais espaço mediático, se o seu programa estivesse a cativar "clientes", seria obrigatório ter agora mais deputados mas manteve.
Isto traduz que as ideias chegaram as mais pessoas, aos eleitores distraídos, mas não conseguiram convence-lo. Como as ideias não estão a entrar no "eleitorado distraído", a IL está condenada a ser um partido de nicho, juntando-se ao BE, PCP, PAN e LIVRE.
PRevejo que a IL vai seguir o caminho do BE que, entre 1999 e 2019 parecia que estava numa subida imparável e, no entretanto, caiu rapidamente para a irrelevância.
Fig. 4 - Evolução do número de deputados do Bloco de Esquerda